O resultado do uso das Cadernetas Agroecológicas pelas agricultoras do Piauí foi divulgado pela Secretaria de Estado da Agricultura Familiar, após seis meses de execução, por meio do Projeto Viva o Semiárido (PVSA), com apoio do Semear Internacional/Fundo Internacional do Desenvolvimento Agrícola (Fida).
Participaram do encontro, além das entidades parceiras e agricultoras, representantes de empresas de ATS( Assistência Técnica Sistemática) como Emater,COOTAPI (Cooperativa de Trabalho de Prestação de Serviços para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar ) e Emplanta ( Empresa de Planejamento e Assessoria Técnica Agropecuária ) .
Segundo Sarah Luiza, consultora de Gênero, Raça,Etnia e Geração, além de divulgar os resultados das cadernetas agroecológicas, o objetivo do l Seminário Estadual das Cadernetas Agroecológicas do Piauí, foi de possibilitar trocas de experiências entre agricultoras e equipes técnicas que estão trabalhando com as cadernetas agroecológicas no Projeto Viva o Semiárido.
Os dados foram apresentados pela gerente de gestão do conhecimento do programa Semear Internacional, Aline Martins e pela Agrônoma Julia Aires, que trabalhou como consultora do PVSA e acompanhou as atividades das cadernetas no Piauí. A renda registrada por 147 mulheres, que participaram do projeto em 13 comunidades rurais, foi de R$ 304.940,87 com a comercialização, consumo e trocas de 346 tipos de produtos como alimentos de origem vegetal e animal, plantas e preparos medicinais, mudas, sementes, alimentos de origem mista, artesanatos e trabalhos manuais e prestação de serviços.
Para a agricultora Aparecida Silva Sousa,da Associação das Mulheres Agricultoras de Itainópolis (AMAI)/Território Guaribas, a caderneta agroecológica não foi apenas um instrumento de anotações mas de trabalho de valorização e empoderamento da mulher agricultora no campo. “Muitas vezes nosso trabalho ficava escondido atrás da aporta e do esposo, por a gente não ter esse conhecimento”. Cida, como é conhecida, informou ainda que o principal projeto que desenvolveram foi na cadeia produtiva da caprinocultura e, que ao final, com pouco mais de R$ 30 mil dos rendimentos, investiram nos quintais produtivos. “Teve um valor muito significativo nas nossas mãos, porque com a caderneta vimos o quanto foi importante este investimento” concluiu.
Após os depoimentos, o Secretário de Estado da Agricultura familiar, Hérbert Buenos Aires, chamou à atenção de que o projeto é mais do que um trabalho emancipatório. “A iniciativa tira a mulher sertaneja das sombras e colocar às claras, é um trabalho de gestão, com a adesão do marido e as atividades agregadas à utilização das cadernetas, que transcende o processo de empoderamento das mulheres, por ser um instrumento de gestão da economia familiar e de grande contribuição da vida em comum de toda a família dentro de casa”.
O Secretário reiterou um desafio às mulheres beneficiárias do PVSA e aos coordenadores, para que o próximo projeto do Viva o Semiárido seja capaz de produzir um maior número de lideranças de jovens e mulheres. “Garantindo o sucesso maior dos investimentos públicos na produção da agricultura familiar, no processo de organização, ao invés de ficarmos trabalhando tradicionalmente as lideranças masculinas e que de fato elas levem esta experiência para além dos quintais e das paredes de suas casas, compartilhando o aprendizado, trazendo outras mulheres, multiplicando e contribuindo para uma agricultura familiar mais poderosa do que é hoje, principalmente em termos econômicos, sem esperar somente pelo poder público, onde o investimento é mínimo”. concluiu.
O Coordenador do Projeto Viva o Semiárido no Piauí e superintendente da Saf, Francisco das Chagas Ribeiro, enfatizou que as pesquisas são muito importantes na mostra de dados, mas que os depoimentos das agricultoras demonstram a realidade com mais eficácia do resultado. “Ouvir estes depoimentos e vincular com outras ações, como a comunicação por exemplo, com o apoio da equipe do Ubíqua/ TV Nestante, vão enriquecer muito as avaliações. Um resultado que me chama atenção é a produção de alimentos, um terço do que foi anotado vai para a alimentação, e esta relação do quintal agroecológico, a soberania alimentar e a garantia do consumo com produtos saudáveis e frescos já era resultado suficiente para justificar os investimentos que todos os parceiros, o Governo do Estado e a assistência técnica fizeram nesta metodologia. Além disso, ficam outros resultados relacionados às lutas das mulheres, seu empoderamento e fortalecimento nas organizações e também fica a metodologia à disposição dos grupos e entidade de Ater”.
Maria Euzileide Pereira, da comunidade Urupeu, em Campo Grande, Guaribas, descreveu como aprendeu a reconhecer o potencial do que está ao seu redor, da folha ao fruto. “Eu abri minha visão. Hoje fazemos todo tipo de chás, do limão, tamarino, até de folhas de umbu. Algumas mulheres não sabem ler e eu me responsabilizei em ajudá-las, eu amo estas mulheres, ajudo e quero ajudar. A caderneta também trouxe a organização, sobre o que consumimos, doamos e vendemos e não tem preço que pague pegar um pimentão,um punhado de cheiro verde ou pimentinha do seu quintal, comer algo que você confia e se esforçou para fazer e fez, é algo divino”.afirmou a agricultora.
Hardi Viera, oficial de projetos FIDA no Brasil, ressaltou a maneira especial que os resultados foram apresentados no seminário, compartilhando as experiências com depoimentos das próprias Agricultoras. “A gente tem que colocar as mulheres protagonizando e no centro da agricultura familiar. Mulher tem que ficar à frente e pra isso a caderneta agora é instrumento fundamental para colocar a mulher em primeiro plano e reconhecer seu papel chave na agricultura familiar. Além disso foi demostrado aqui que a caderneta agroecológica é um instrumento de união em torno dos processos de associativismo além de elemento importante para a nutrição e segurança alimentar”.pontuou Hardi Vieira.