A Universidade Estadual do Piauí (Uespi) é a terceira instituição de ensino superior no país com maior representatividade de mulheres como docentes, conforme dados compartilhados pela Revista Quero com base em pesquisa junto ao Ministério da Educação (MEC). Os dados da pesquisa foram obtidos por meio do portal do Inpe, que disponibiliza ao público os microdados do Censo da Educação Superior. Os dados referentes a 2018 foram divulgados no mês passado e tiveram como objeto as instituições de ensino superior que tinham mais de 500 professores no total do corpo docente e que estavam em situação de exercício. Depois filtramos por gênero. Essa pesquisa diz respeito somente a instituições do ensino público.

A universidade com maior representatividade feminina entre os docentes é a Universidade do Estado da Bahia (Uneb), que conta com 58,9% de professoras – total de 1.272 mulheres ministrando aula.

Administração Superior
A Administração Superior da Uespi também se destaca no número de pró-reitoras e pró-reitoras adjuntas. O aumento da ocupação da mulher em espaços que historicamente antes eram predominados por homens é algo visível no país. De acordo com um estudo desenvolvido pelo Instituto de Geociências da Unicamp, as mulheres já formam há vários anos a maioria do corpo discente do ensino superior, tanto na graduação como na pós-graduação, atingindo também o maior número de títulos de doutorado. A Uespi conta com 589 docentes mulheres (55,3%) e na Administração Superior, três das cinco pró-reitorias são comandadas por mulheres e como pró-reitoras adjuntas são duas.

Profa. Nayana Pinheiro está frente da Pró-Reitoria de Ensino e Grduação da UESPI

Professora Nayana Pinheiro está à frente da Pró-Reitoria de Ensino e Graduação da Uespi

A pró-reitora de Ensino e Graduação, Nayana Pinheiro, destaca que essa conquista é importante para o empoderamento feminino e seu crescimento profissional. “Nos orgulha bastante em ver que a mulher está sendo valorizada e que estamos conquistando, por direito, nossos espaços no campo de trabalho. Observamos que hoje a mulher está à frente de grandes negócios,  fazendo excelentes gestões. Então, temos esses dados como uma vitória e muito nos engrandece”, afirmou.

A professora Sandra Marina Bezerra, docente do curso de Enfermagem e professora da primeira turma de especialização em Estomaterapia do Piauí, destaca que a mulher vem avançando barreiras para qualificação e demonstrando seu empenho e compromisso com a educação. “Ser docente de Universidade pública é um conquista para todos os professores e é um avanço na questão de gênero sermos maioria, principalmente, por termos vários cursos com Enade 5, comprovando o compromisso, dedicação e perspectivas de melhoria agregando com a pesquisa e extensão para desenvolvimento da ciência”, diz.

Profa. Sandra Marina está na UESPI desde 2012 na Coordenação da Clínica Escola e da Pós Graduação. Atualmente no Departamento de Relações Seccionais da Sobest

Professora Sandra Marina está na Uespi desde 2012 na Coordenação da Clínica Escola e da Pós Graduação

Para a antropóloga e professora da Uespi, Márcia Adriana de Oliveira, a mudança da realidade quanto ao papel e as conquistas das mulheres passam pelos esforços das próprias mulheres, mas ela espera que o gênero, um dia, não seja ponto de discussão. “É muito bom perceber que estamos nos qualificando mais, realidade que antes não era possível, frente às dificuldades que a própria sociedade construía diante do estereótipo que a mulher deveria somente se dedicar  à sua família. Então, vamos chegando a um ponto em que finalmente o gênero não é determinante da sua profissão”, afirmou.

De acordo com a professora Mona Ayala Silveira, do curso de História do campus Professor Ariston Dias Lima, de São Raimundo Nonato, essa conquista é importante não somente para história da universidade, que vai também ganhar mais representatividade nacional, como também para a história do Piauí. “O direito à educação e ao mundo do trabalho é um dado que aconteceu dentro de um processo do início do século XX com muita luta e resistência. Atualmente estamos aqui, cerca de 100 anos depois conquistando nossa representatividade nacionalmente”, destacou.

A estudante do curso de Ciências Sociais, Yasmin da Paz, desenvolveu uma pesquisa sobre “A Visibilidade da Mulher no Contexto do Ensino Superior no Brasil”. O trabalho teve como objetivo de analisar a literatura de gênero, especificamente relacionada a educação, compreender o panorama do sistema educacional brasileiro em relação a mulher e ensino superior e a apresentação das conquistas e dificuldades que as mulheres enfrentaram durante o processo em busca do direito de acesso à educação.

“A ideia da minha pesquisa foi refletir sobre a relação mulher e educação, e a permanência delas em meio aos desafios impostos,  a partir de um percurso histórico que ainda é um fato recente. As mulheres tiveram o direito de ter acesso à educação no final do século XIX, então nosso estudo teve o objetivo de contar essa história e evoluções. Ter conhecimento dessa pesquisa que a nossa instituição é a 3° com mais mulheres docentes do país é de extrema alegria. É bom ver esse processo e evolução das mulheres ao longo dos anos, temos que permanecer lutando e ocupando esses  espaços”, enfatizou.

O envolvimento das mulheres também no campo de pesquisa da Uespi aumentou. Segundo um estudo publicado em 2017 pela Elsevier, maior editora científica do mundo, nos últimos 20 anos a proporção de mulheres que publicam artigos científicos cresceu 11% no Brasil. Na Uespi esse número é corroborado através de inúmeras pesquisas de destaque desenvolvidas por mulheres dentro e fora da universidade. Atualmente, na instituição 359 mulheres estão envolvidas em projetos de pesquisas e editais de iniciação científica. Nos programas de pós-graduação três são coordenados por mulheres. Para a Uespi é importante ter em diversos espaços mulheres atuando e contribuindo com uma educação mais plural e participativa.