A professora Algemira Mendes, professora do curso de Letras da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), foi destaque na Revista de Pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sua pesquisa sobre primeira a escritora romancista negra do Brasil: Maria Firmina dos Reis (1822-1917).
A Revista Pesquisa Fapesp é uma publicação jornalística especializada no segmento de ciência e tecnologia que tem por foco primordial a produção científica nacional. Nessa edição, a revista destacou pesquisas que contam a história da escritora Maria Firmina dos Reis (1822-1917) romancista negra e pioneira na literatura antiescravista.
A professora Algemira Mendes desenvolve pesquisas sobre a autora desde 2003 em seu doutorado. Ela afirma os textos de Reis transcendem a visão conservadora e estereotipada sobre o negro e índio no século XIX, uma vez que autora adota um posicionamento explicitamente anti-escravagista, ao contrário de outros escritores da época. Em 2016, a professora publicou a obra “A Escrita de Maria Firmina dos Reis na Literatura Afrodescendente Brasileira: revistando o cânone”.
Para a professora, a publicação na revista significa o reconhecimento de um trabalho que faz a 15 anos. “Comecei a pesquisar sobre a Maria Firmina há 15 anos atrás quando ela ainda não tinha o reconhecimento que merecia. Maria Firmina dos Reis é hoje um marco de nossa literatura, amplamente reconhecida e muitas pessoas desenvolvem pesquisas em torno da sua escrita e trajetória. Hoje eu me sinto grata por ter sido pioneira em pesquisar sobre essa autora que é símbolo de força e luta”, pontua.
A coordenadora do Programa de Pós-graduação em Letras, Bárbara Melo, destaca que é muito gratificante observar que as pesquisas realizadas na nossa universidade estão ultrapassando fronteiras. “Não é a primeira vez que as pesquisas da professora Algemira, bem como de outros professores da universidade, estão tendo reconhecimento fora do nosso estado e até mesmo fora do país. Isso dá uma visibilidade e nos mostra que seguimos com uma educação de qualidade e reconhecimento”, ressalta.
A vida de Maria Firmina dos Reis
Filha de uma escrava alforriada e um pai negro, Maria Firmina dos Reis nasceu no dia 11 de março de 1822 na cidade de São Luís do Maranhão. A vida da autora ainda apresenta várias lacunas, sabe-se que ficou órfã em 1830 e foi morar com uma tia que lhe deu condições e oportunidade de estudar. Em 1847, foi aprovada em concurso público para professora de primário, cargo que exerceu até se aposentar em 1881.
Foi em 1859 que a maranhense publicou seu livro “Úrsula”, que é hoje considerado o primeiro romance afro-brasileiro pioneiro da literatura antiescravista no país. A professora Algemira afirma que a escritora maranhense quebrou paradigmas de sua época. “É difícil imaginar uma mulher, negra, descendente de escravos no século 19 conquistar o que ela conquistou. A Maria Firmina foi a única mulher com presença tão marcada na imprensa maranhense ao longo de todo o século”, disse.
Na sua escrita, existe uma pluralidade do retrato das mulheres, com exemplos que vão desde o ideal feminino do período até personagens que desafiam fortemente as convenções. “A personagem negra Susana na obra Ursula é um exemplo disso. Ela quebra no estereótipo da mulher negra sexualizada, interessada em seduzir, muito presente na literatura do período”, explica.
Durante 50 anos, a escritora colaborou com vários jornais maranhenses, onde publicou poesias, contos e crônicas. A maranhense foi responsável pela criação da primeira escola mista do Maranhão. A autora faleceu em 1917, aos 95 anos de idade, deixando 11 filhos adotivos e um legado para a literatura brasileira.