O Piauí se destacou internacionalmente graças ao êxito do enfrentamento à pandemia de Covid-19, que tem assegurado assistência ágil e qualificada aos pacientes infectados pelo novo coronavírus, como o terceiro estado do Nordeste com menor diminuição na expectativa de vida, de acordo com estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, publicado na revista britânica Nature Medicine no último dia 29.

O impacto da mortalidade causada pela Covid-19 provocou uma redução de 1,8 ano na expectativa de vida média dos brasileiros somente nos quatro primeiros meses de 2021, no entanto os estados do Nordeste foram os que sofreram menor impacto, quando comparados aos estados do Norte.

No Nordeste, o Piauí aparece com a terceira menor redução, com 1,20 ano, seguido pela Bahia, com 1,23, e pelo Maranhão (1,25), Rio Grande do Norte (1,36), Paraíba (1,40), Sergipe (1,43) e Ceará (1,57). Em primeiro vem Pernambuco (de 75,31 para 74,53, redução de 0,78) e segundo Alagoas (de 74,89 para 73,88, 1,01 a menos). O tempo perdido foi estimado num estudo liderado pela demógrafa Márcia Castro, da Universidade Harvard.

Para o pesquisador da UFPI, Emídio Matos, doutor em Biologia Celular pela USP, o artigo mostra que a letalidade por Covid 19 no Brasil foi catastrófica, de forma desigual, refletindo as desigualdades históricas do país e que os ganhos em longevidade que tinham sido alcançados ao longo de 2 décadas foram perdidos com a pandemia (perda de 19% em média, chegando a 60% no Amazonas).

“Contudo, mostram, com surpresa, que os estados do nordeste não apresentaram as perdas da região norte, como era esperado e atribuem isso às decisões dos governadores do nordeste que foram mais rigorosos com as medidas não farmacológicas, como recomendado pela ciência. No Piauí se adotou medidas restritivas, foram realizadas campanhas educativas na mídia, sempre com base em evidências científicas, orientando a população para fazer uso da máscara ao sair de casa, respeitar o distanciamento social e, principalmente, manter a higiene das mãos. Aumentou o número de leitos, foram comprados EPIs e apostou na testagem em massa com o Programa Busca Ativa, dentre outras medidas”, comentou.

Para o pesquisador Emídio Matos, essas decisões foram imprescindíveis para estes resultados. “Ao contrário de grande parte dos governadores do Norte do país, que deixaram de adotar as recomendações da ciência, seguindo o negacionismo do presidente”, finalizou.

Os estados da Região Norte foram os mais afetados pela perda de expectativa de vida. A maior redução foi registrada no Amazonas: são 4,42 anos a menos, passando de 75,41 para 70,99 anos. O estado sofreu com o colapso do seu sistema de saúde em janeiro, quando pacientes internados morreram asfixiados por falta de oxigênio hospitalar. A segunda maior queda ocorreu em Rondônia: de 76,41 para 72,49 anos, ou seja, 3,92 a menos.

O estudo trabalhou basicamente com os dados que dizem quanto um brasileiro nascido hoje deve ter de expectativa de vida caso as taxas de mortalidade se mantenham similares às deste ano, marcado pela segunda onda da Covid. O impacto dos óbitos causados pelo vírus fez essa idade cair de 76,74 anos para 74,96 na média nacional. A redução (uma comparação entre 2019 e 2021) pode parecer pequena em termos absolutos, mas representa o retrocesso de uma década.