“Este encontro, articulado pelo Governo do Estado, tem o objetivo de, juntos, construirmos informação e conhecimento que ajudem ao movimento a enfrentar a conjuntura atual, imposta pelo Governo Federal, que é ameaçadora e que retira os direitos. Somente com o conhecimento é que somos capazes de garantir a defesa dos nossos direitos”, declarou Rosalina dos Santos, na abertura do 1º Encontro de Formação de Multiplicadores de Lideranças Quilombolas do Piauí.
Liderança quilombola de forte participação no movimento social nacional, Rosalina dos Santos atualmente responde pela Gerência de Povos e Comunidades Tradicionais (GPCT), do do Instituto de Terras do Piauí (Interpi).
Como uma das articuladoras do Encontro promovido pelo Governo do Estado, por meio do Interpi, a gestora considera que o evento é um espaço propiciado pela administração pública que permite a troca de informação e possibilidade de adquirir mais conhecimentos para alicercear a luta e a defesa dos direitos das comunidades tradicionais quilombolas no Estado.
“É no espaço como este, em rodas de conversa como esta, que a gente consegue, juntos e juntas, construir informação e ampliar nossos conhecimentos. Cada liderança que saiu de suas bases, de seus quilombos, veio com esta tarefa de que o conhecimento adquirido aqui deverá ser multiplicado em nossas comunidades, principalmente no que se refere a regularização dos territórios, como fazer a defesa, como pressionar, como cobrar para que a regularização dos territórios quilombolas possam acontecer no curto, médio e longo prazo”, avaliou Rosalina.
A governadora em exercício, Regina Sousa, participou da abertura do evento, declarando da alegria e o compromisso da atual gestão em acelerar o atendimento aos pequenos agricultores e aos povos e comunidades tradicionais, por ter consciência que muitos deles já esperam e lutam por seus direitos há mãos de 40 anos, em alguns casos.
“Por exemplo, somente 40 anos depois que o Padre Ladislau levou uma surra por defender aos trabalhadores e trabalhadoras rurais na região de Esperantina é que conseguimos vencer e entregar o titulo de terras para os descendentes daqueles que lutaram junto com o Ladislau por seus direitos a terra. Só quem vivencia sabe o que significa isso pra gente. 40 anos de luta para conquistar suas terras, mas conquistaram. Isso é que é importante.”
Para reforçar que a luta sempre deve continuar, que é importante que os trabalhadores, que os quilombolas, os indígenas e todos aqueles que estão em situação de maior vulnerabilidade nunca desistam de buscar por direitos, mesmo enfrentando obstáculos e a burocracia, a governadora também citou diversos outros casos em que, em solenidades da Vice-governadoria, vem entregando o Título de Propriedade de Terras para pessoas que já são outras gerações, os herdeiros daqueles que há muito tempo iniciaram a luta por seus direitos.
O Encontro de Formação de Multiplicadores de Lideranças Quilombolas continuou, no seu primeiro dia, com as palestras do diretor-geral do Interpi, advogado Chico Lucas, e a socióloga Rosymaura Duarte, que atualmente é consultora de povos e comunidades tradicionais do Programa de geração, emprego e renda – PROGERE II, executado pela Secretaria de Estado da Agricultura Familiar – SAF/PI.
Eles abordaram o tema “Regularização Fundiária: Terra, Produção e Assistência Técnica nos Territórios Quilombolas” e foi oportunidade para o diretor-geral do Interpi apresentar aos participantes a equipe que compõe a Gerência de Povos e Comunidades Tradicionais.
À tarde, a assistente social e quilombola pernambucana Maria Aparecida Mendes abordou o tema “Educação Quilombola: Gênero e Geração”.
Maria Aparecida Mendes é dona de uma respeitável história pessoal e profissional, fundamentada em seus conhecimentos acadêmicos, suas experiências de vida como atuante mulher quilombola da comunidade Conceição das Crioulas, em Salgueiro, Pernambuco.
A ativista do Movimento Quilombola/CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) é graduada em Serviço Social, pela Universidade de Guarulhos, em São Paulo, e mestra em
Sustentabilidade Junto a Povos e Territórios Tradicionais-MESPT, pela Universidade de Brasília – UnB.
Ela é também uma das coautoras quilombolas do livro “Mulheres Quilombolas: Territórios de existências negras femininas”, lançado pela editora Jandaíra, que reúne 18 autoras e uma quantidade diversificada de temas que afetam fortemente a vida dos quilombolas e das quilombolas no país e que são invisíveis na sociedade.
No livro, Maria Aparecida Mendes aborda a condição das crioulas em Salgueiro, em Pernambuco, e a situação constante de ameaça e de violência em que vivem as mulheres quilombolas em toda parte. O feminicídio atinge as mulheres no geral, sejam elas brancas, negras, indígenas, urbanas ou rurais e o problema é ainda agravado no campo, onde alguns crimes de feminicídio são tratados na ótica da educação machista como crime de honra, resultando em casos de injustiças e mesmo impunidades.
O 1º Encontro de Formação de Multiplicadores de Lideranças Quilombolas do Piauí está acontecendo no Auditório do Hotel Cajuína Avenida, na zona leste de Teresina, reunindo lideranças de mais de 100 comunidades tradicionais quilombolas do Estado.
O evento também está sendo transmitido pelo Youtube (https://youtu.be/_8fGemqyfsU) e deverá prosseguir até às 18h do sábado (13/11), quando será elaborado um documento oficial para ser entregue nas mãos da governadora em exercício Regina Sousa no seu retorno ao Auditório do Hotel Cajuína.