Um grupo de mulheres da Associação de Artesãs do município de Ipiranga (Assaripi) tomou a iniciativa de produzir os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) utilizados pelos profissionais da área de saúde a fim de ajudar estes trabalhadores a se proteger do coronavírus. O grupo que forma a associação criada há 13 anos é composto, em sua maioria, por mulheres. Dos 47 associados, apenas quatro são homens. Normalmente, os membros da entidade produzem móveis, cestos, peças de decoração, roupas e bolsas utilizando talo de buriti e fibras vegetais da região. A Assaripi é beneficiária do Projeto Viva o Semiárido (PVSA) que é executado no Piauí por meio da Secretaria de Estado da Agricultura Familiar (SAF).
O secretário da Agricultura Familiar, Hérbert Buenos Aires, frisou que a SAF, além de apoiar os agricultores familiares piauienses, também executa, mesmo com as dificuldades impostas pela pandemia, outras atividades que buscam colaborar no combate à Covid-19 . “Estamos fazendo contatos com as comunidades do interior do estado que têm projetos e programas executados pela SAF e pedindo àquelas que têm pessoas que costuram e bordam para produzir máscaras e toucas e possam ajudar outros trabalhadores a se proteger contra a disseminação do vírus. A comunidade da Assaripi, que é atendida pela secretaria por meio do PVSA com recursos do Fida (Fundo Internacional do Desenvolvimento Agrícola), saiu na frente. A gente já está intermediando a comercialização da produção que chega a 500 máscaras por dia. Este é um exemplo de que é possível, mesmo em meio a uma crise desta dimensão, mostrar a força das comunidades da agricultura familiar e reconhecer que elas não só podem colaborar, como também obter alguma renda com uma ação social importante”, destacou o gestor.
O coordenador do Projeto Viva o Semiárido no Piauí e superintendente da SAF, Francisco das Chagas Ribeiro, ressaltou que a Assaripi está adaptando os seus maquinários para a fabricação de material de proteção para os profissionais de saúde e que já fabricaram máscaras de tecido e de Trinito Tolueno (TNT) e aventais para as secretarias de Ssaúde da Região do Vale do Sambito, principalmente de Ipiranga e municípios vizinhos.
O gestor anunciou que a associação está se preparando para estender esta produção com objetivo de atender outras regiões por meio do PVSA. “Com o apoio do Governo do Estado e do Fida, vamos adquirir novas máquinas e assim aumentar a capacidade de produção e comercialização. A meta é produzir 500 peças de equipamentos de proteção individual por dia, protegendo estes profissionais da saúde, que estão na linha de frente no combate ao coronavírus”, afirmou Francisco das Chagas.
Ele informou ainda que a SAF está trabalhando com outras associações beneficiárias do Programa de Geração de Emprego e Renda (Progere II) dos municípios de Nossa Senhora de Nazaré e Batalha para que possam também fornecer EPIs, ampliando a capacidade de produção, podendo cada associação chegar a produzir 800 máscaras por semana. “No momento, a Assaripi já produziu uma boa quantidade e está em condições de continuar e ampliar esta ação de solidariedade por meio do Projeto Viva o Semiárido”, afirmou.
A presidente da associação, Lídia Ribeiro de Andrade, conta que a ideia surgiu depois que as associadas e a presidenta da Central de Cooperativas Empreendimentos Solidários (Unisol), Edinalva Costa, observaram que as máscaras tão procuradas para proteção contra o coronavírus estavam em falta nos estabelecimentos da cidade e resolveram procurar as bordadeiras e costureiras da Assaripi. “Os fornecedores não estavam mais dando conta e resolvemos ajudar. Inicialmente, fizemos poucas peças e doamos para as pessoas do interior, principalmente idosos que estavam precisando. Em poucos dias, já estávamos doando para o Posto de Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde onde entregamos 87 máscaras. Depois, o hospital solicitou e mandou o TNT e fizemos mais 80, chegando a produzir em torno de 300 peças”, explica. A artesã acrescenta que, no seu atelier em casa, com a ajuda da irmã, também produziu um kit com três máscaras do tecido tricoline, devidamente esterilizadas e embaladas, comercializado a R$ 10.
As doações produzidas pelas artesãs piauienses também foram entregues ao Hospital Regional de Picos, que contribuiu com o material. Além de 300 máscaras, foram confeccionadas toucas.
Lídia de Andrade explica que a Assaripi, nesta primeira fase, já conseguiu fazer bastante doações com o uso das máquinas, a mão de obra e parte do material como elástico e linhas, para a produção dos equipamentos. O restante do material está sendo doado pela Secretaria Municipal de Saúde e hospitais. “Nesta doação, o máximo que conseguimos produzir, até agora, foram 300 unidades por dia. Mas já recebemos pedidos para comercialização e, no caso do município de Pimenteiras, pedimos apenas uma pequena taxa. Temos solicitação da capital e até do Distrito Federal mas ainda não podemos atender todas as demandas”, pontuou.
Cada uma das costureiras ou bordadeiras tem de uma a três máquinas adquiridas pelo Projeto Viva o Semiárido e aguardam a chegada de novas máquinas para acelerar a produção. A maioria vive da produção e comercialização da venda dos artesanatos nas feiras e lojas do município e região. Iolita Ramos, uma das co-fundadoras da Assaripe, sustenta a família com parte do que produz e se emociona ao falar da ação solidária que estão participando. “Estamos produzindo as máscaras, mas gostaríamos de ajudar mais. A gente está despertando agora para esta realidade que é o coronavírus e todos nós temos que dar nossa contribuição. Moramos à beira de uma BR, estamos vendo a dificuldade dos caminhoneiros, que são responsáveis por transportar tudo para nós, até para comer. Por isso, outra ideia é confeccionar máscaras e entregar para eles na beira BR. Temos que proteger também quem está se arriscando nas estradas do país por nós”, concluiu a artesã de Ipiranga.
O oficial de Projetos do Fida no Brasil, Hardi Vieira, destaca a importância da ação e cita a capacitação das mulheres da Assaripi promovida pelo projeto. “Como participaram da capacitação, as artesãs conseguiram rapidamente se adaptar às demandas do mercado e, assim, contribuir para dar uma resposta a esta crise provocada pelo coronavírus. Todo o trabalho anterior que envolveu também a assistência técnica, capacitação e produção, foi fundamental para o que as associadas estivessem preparadas para este momento”, ponderou.
Ele definiu como fundamental o foco de comercialização e acesso ao mercado que o projeto Viva o Semiárido desenvolveu nos diversos empreendimentos e projetos de investimentos produtivos, ampliação do aspecto não-agrícola e a profissionalização no meio rural, que envolve a produção de outros produtos como o artesanato e o reflexo direto do trabalho do PVSA resultando no maior engajamento das mulheres e jovens e o acesso a novos mercados.