A Secretaria da Agricultura Familiar do Piauí (SAF) está, juntamente com outros estados do Nordeste, aderindo a um pacto para investimentos e direcionamento de ações para fortalecer a produção de algodão orgânico nos nove estados da região. O Piauí tem apresentado um crescimento na produção de algodão orgânico e agroecológico desde 2019 a partir do trabalho de agricultores familiares que atuam em cinco municípios distribuídos pelos territórios do Vale do Itaim, Vale do Canindé e Serra da Capivara.
O compromisso firmado entre a SAF e gestores de pastas relativas à agricultura familiar dos outros estados nordestinos aconteceu no Seminário Técnico sobre Algodão Agroecológico/Orgânico e seus Consórcios Agroalimentares no Semiárido, que aconteceu nos dias 25 e 26 de julho em Campina Grande, na Paraíba. O evento foi realizado pelo Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em parceria com a Câmara Temática da Agricultura Familiar do Consórcio Nordeste, o Governo da Paraíba, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura Familiar e do Desenvolvimento do Semiárido (SEAFDS-PB), a Embrapa Algodão e o Projeto +Algodón.
O Superintendente de Ações de Apoio à Agricultura Familiar da SAF, Clébio Coutinho, participou do evento que congregou pesquisadores, gestores, agricultores familiares e representantes de movimentos sociais que participam das cadeias produtivas do algodão orgânico e agroecológico no Nordeste. Ele pontuou que o momento oportunizou a troca de experiências e o fechamento de uma parceria entre os estados.
“Ouvimos os pesquisadores, compradores do algodão, produtores e também as experiências do Rio Grande do Norte e da Paraíba, que têm experiências exitosas e complementares. Então tem muita coisa boa para a gente tirar dessas experiências. E também sai daqui da Embrapa um desafio de formar uma grande rede dos estados do Nordeste para fortalecer esses sistemas de produção”, citou.
Produtor de algodão orgânico de Paulistana, Osvaldo Mamedio, também participou do evento. Ele, que também é vereador do município, considera que foi possível compreender o funcionamento da cadeia produtiva em outros estados e ter uma perspectiva positiva para o Piauí.
“Foi importante para buscar conhecimento dos estados que estão mais avançados nesse processo e o governo do Estado também tem o objetivo de expandir as experiências que fazemos em mais municípios. Estou otimista com a aproximação do Governo do Piauí, com o governador Rafael Fonteles e a secretária Rejane Tavares, que já esteve em nossa comunidade e eu acredito que teremos um ganho muito grande”, frisou o produtor.
O algodão orgânico no Piauí
Desde 2019, produtores da região do semiárido têm apostado no cultivo de algodão orgânico e agroecológico. A cultura, que já despontou como um importante produto nas décadas de 70 e 80, foi praticamente dizimada após ser acometida pela praga do bicudo. Com o apoio da Diaconia e da Cáritas, entidades ligadas à Igreja Católica e da Embrapa Algodão, sediada na Paraíba, os agricultores familiares têm retomado essa produção.
Ita Porto, coordenadora da Diaconia em Pernambuco, apontou a autogestão comunitária na negociação de preços com as empresas compradoras do algodão que, segundo ela, indica uma resiliência dos agricultores familiares.
“As famílias têm produzido e comercializado diretamente o preço com as compradoras da fibra do algodão. Então as próprias famílias beneficiam a sua produção, descaroçam, enfardam e vendem o algodão em pluma, sem atravessador es. No Piauí, as próprias famílias gerenciam toda a estratégia de construção do preço, negociação do preço com as empresas e isso também a gente entende ser importante para fortalecer a autogestão comunitária, um indicador de resiliência”, citou.
Em 2022, foram colhidas 10 toneladas de pluma de algodão branco no Piauí. O produto é cultivado por 155 agricultores familiares divididos nos municípios de São Raimundo Nonato, Canto do Buriti, São Francisco de Assis do Piauí, Queimada Nova e Paulistana.
A Associação dos Produtores Agroecológicos do Semiárido Piauiense (APASP) é credenciada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a certificação de orgânico, ou seja, certifica que todo o processo de produção do algodão é livre de agrotóxicos e insumos químicos. Toda a produção de algodão orgânico é exportada para a produção de calçados feita por uma empresa francesa.