A coordenadora do Mestrado em Letras, Algemira de Macêdo, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) em Teresina, ganhou notoriedade nacional na última semana por suas pesquisas desenvolvidas em tordo da primeira escritora romancista negra do Brasil: Maria Firmina dos Reis (1822-1917), na rede BBC News.
Algemira Macedo é considerada uma das pioneiras nos estudos sobre Maria Firmina dos Reis. Ainda em 1999, a docente teve seus primeiros contatos com os textos da autora, tendo lançado, inclusive, o livro “A Escrita de Maria Firmina dos Reis na Literatura Afrodescendente Brasileira: revistando o cânone”, publicado em 2016.
“Quando comecei a pesquisar sobre ela, no meu doutorado, em 2003, existia somente uma edição esgotada da obra: Úrsula, poucos teses de dissertação com o objeto de estudo principal e uma obra sobre ela do falecido autor Nascimento Morais. Foi difícil, mas por meio de fontes primárias como os jornais que ela publicava, percebi que seus textos transcendem a visão conservadora e estereotipada sobre o negro e índio no século XIX, uma vez que autora adota um posicionamento explicitamente anti-escravagista, ao contrário de outros escritores da época. Observar Maria Firmina ser reconhecida por tudo que fez e saber que minhas pesquisas ajudaram a alcançar isso é extremamente gratificante”, ressalta.

Professora Algemira com o livro “A Escrita”
A vida da escritora
Maria Firmina dos Reis nasceu no dia 11 de março de 1822 – São Luís (Maranhão). Porém, até 2018, sua data de nascimento era creditada em outubro, que na verdade foi sua data de batismo. Em 1859, Maria publicou o livro Úrsula, que, posteriormente, seria considerado a primeira obra crítica da escravidão na nossa literatura, por meio da humanização de personagens escravizados.
Independente, sendo considerada a primeira mulher aprovada em um concurso público do Maranhão para cargo de professora, Maria era a representação, na época, do empoderamento das mulheres.
“Não é só a obra dela que faz com que se destaque das suas contemporâneas. Sua vida também foi repleta de fatos que demonstram que ela era possuidora de cultura, consciência política e social fora dos padrões estabelecidos pela sociedade interiorana e escravocrata”, aponta a pós-doutora em Literaturas Africanas de Língua portuguesa, Algemira de Macêdo.
Com rosto ainda desconhecido, a escritora chegou a ser representada em um busto com os lábios finos e em um quadro com a pele branca. Fato que, em 2012, foi comprovado a inexistência da aparência descrita acima, através da pesquisadora Régia Agostinho.
Outra pesquisa da docente
Com a publicação de um material inédito pertencente à primeira escritora piauiense, Luiza Amélia de Queiroz, a professora Algemira de Macêdo também fez um resgate histórico de poemas e textos da escrita feminina do Piauí.
Outros trabalhos na Uespi sobre mulheres negras
No último domingo, 25 de julho, foi celebrado o Dia Internacional da Mulher Negra e Latino- Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela. As datas trazem reflexão sobre o papel da mulher negra que lutou para conquistar espaços na sociedade e que se tornaram símbolos de liderança em épocas que a mulher negra não tinha direitos como cidadã.
Neste contexto, docentes e discentes da Uespi também estão engajados em produzir trabalhos que exaltem essas mulheres negras, latino-americanas, caribenhas e indígenas. É o caso do projeto Escritoras Pretagonistas e Indígenas Latino-Americanas, do curso de Letras Espanhol, sob coordenação do professor Josinaldo Oliveira dos Santos. O projeto tem o propósito de evidenciar e discutir sobre as narrativas de escritoras pretas e dar visibilidade a seus trabalhos.
“Se você pegar Maria Firmina dos Reis e outras escritoras Latino-Americanas é evidente que várias delas sofreram tentativas de serem silenciadas e até perseguidas por conta do que defendiam em suas obras. Historicamente, essas mulheres desempenharam um papel extremamente importante para que hoje os negros e negras tenham alcançado seus espaços perante a sociedade”, comenta o professor Josinaldo.
Os 14 alunos envolvidos no projeto trabalham na produção de lives semanais, criação de um blog sobre escritoras negras estão desenvolvendo um canal no Youtube.