Discussões sobre a importância do estudo da história e da cultura africana, afro-brasileira e indígena marcaram o último dia da 6° edição do África Brasil, nesta sexta-feira (22).  Os direitos dos quilombolas e a luta indígena foram temas debatidos nas mesas de hoje. Desde de sua primeira edição, o encontro conta com a presença de palestrantes, que são escritores, professores, jornalistas e contadores de histórias locais e estrangeiros, além dos professores das Universidades Estaduais e Federais do Piauí.

O último dia do encontro teve nove mesas-redondas, uma delas focou na temática sobre Os Quilombos e os 30 Anos da Constituição Federal: terra, educação e soberania intelectual. Participaram da mesa professora Maria Sueli Rodrigues (UFPI), professor Cláudio Rodrigues de Melo (NEPA/Sankofa/Uespi), mestre Arnaldo Silva (Quilombo Custaneira/PI), mestre Antônio Bispo (Quilombo Saco do Curtume/PI) e Assunção Aguiar (Grupo Afro Cultural Coisa de Nego).

O debate contou com discussões sobre a Constituição e a realidade social| foto: Arnaldo Alves

 

A coordenadora do Grupo Afro Cultural Coisa de Negro, Assunção Aguiar, aponta que a reflexão que a mesa-redonda traz é importante frente a realidade do nosso estado. Segundo ela, são mais de 200 comunidades quilombolas no Piauí e apenas cinco dessas são tituladas. “O África Brasil é um evento que oportuniza não somente a discussão entre os estudiosos, mas também a inclusão de quem passa por essas lutas na pele. Há 30 anos a Constituição reconhecia os direitos quilombolas, mas será que essa realidade de fato está consolidada? Acontece que ainda existem muitos tabus em relação ao reconhecimento desses direitos, e aqui tentaremos fazer esse debate”, pontua.

Além dessa, o evento também contou com a mesa temática sobre as Narrativas de Tradição Oral: Histórias Indígenas e Africana, com a participação do professor Aliã Wamiri (indígena guajajara, SESC/PI), professora Aline Pachamama (indígena puri), cacica Francisca Cariri (indígena cariri), professora Lucimar Rosa Dias (UFPR) e do professor Marcos Vinício de Santana Pereira (Uespi).

A professora Aline Pachahama afirma que os estereótipos e a folclorização do indígena ainda é uma realidade muito vigente na nossa sociedade, dessa forma, é importante estabelecer um debate sobre as narrativas e histórias do âmbito indígena. “Em todo o percurso da nossa história nós não fomos representados de fato. Um grande exemplo é a construção do 19 de abril, não nos representa, pelo contrário, consolida práticas de folclorização e estigmatização. Ainda existe uma espetacularização, então a todo momento devemos reafirmar e mostrar nossa luta real”, diz.

Aline Pachahama fala dos estereótipos sociais| foto: Arnaldo Alves

 

O cronograma de atividades do África Brasil também contemplou a apresentação de trabalhos na área de estudos interdisciplinares no que tange as áreas de literatura, cultura e história. O estudante do 8° período do curso de Pedagogia do campus de Picos, Bruno Pereira, apresentou um trabalho sobre A literatura de Cristiane Sobral como ponte para a educação afro-brasileira na Comunidade de Fátima.

“Dentro da graduação estávamos estudando sobre a literatura de Cristiane Sobral (primeira negra graduada em Interpretação Teatral pela UNB) e, a partir disso, me despertou a vontade de aplicar esses textos para os alunos que dou aula, tendo em vista que ela traz assuntos de extrema relevância e acabou se tornando objeto de pesquisa. Então, o África foi uma oportunidade de expor, não somente o que eu tenho produzido, mas toda a comunidade acadêmica. É uma troca de experiências muito importante para nós como estudantes e cidadãos”, destaca.

O professor Elio Ferreiro é um dos organizadores do evento e destaca que o evento, em sua finalização, cumpriu sua proposta: reunir assuntos e profissionais relevantes socialmente como instrumento de mudança social. “O África Brasil, na sua sexta edição, mais uma vez nos alegra com a receptividade acadêmica que ele tem. O evento consegue reunir, consolidar e abranger vários setores sociais que nem sempre tem seu lugar de fala. Então o objetivo do encontro é reativar a importância do estudo da história e da cultura africana, afro-brasileira e indígena”, finaliza.

Além das atividades com palestras e mesas de discussão, esse ano o Africa Brasil teve a Oca de brincadeiras, voltada para a contação de história e jogos tradicionais indígenas e africanos.

 

O evento termina na tarde desta sexta-feira (22) com três conferências abordando diferentes diretrizes do tema: Resistências em tempos sombrios.