A Secretaria de Estado da Agricultura Familiar (SAF), o Projeto Viva o Semiárido (PVSA), o Programa de Geração de Emprego e Renda (Progere II) e o Comitê de Políticas Públicas para Mulheres Rurais realizaram webnário sobre a “Divisão Justa do Trabalho Doméstico e de Cuidados”, voltado para o meio rural.

A secretária de Estado da Agricultura Familiar, Patrícia Vasconcelos, coordenadora do Comitê de Políticas Públicas Para Mulheres Rurais e mediadora do webnário, destacou que o evento realizado de forma remota e segura teve como objetivo criar um espaço de formação, reflexão e divulgação da Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico.

O superintendente da SAF, Francisco das Chagas Ribeiro, coordenador do Projeto Viva o Semiárido no Piauí, reforçou o apoio da secretaria na campanha pela justa divisão de trabalhos domésticos e cuidados e ressaltou a importância do empoderamento feminino, dando exemplo de trajetórias de sucesso de mulheres beneficiárias do Viva o Semiárido que começaram com o projeto em suas hortas e quintais de casa e hoje avançaram na administração do lar, na comercialização de produtos e muitas ocupam cargos de gestão nas associações, cooperativas e órgãos públicos.

“Fico sempre muito alegre quando vejo os depoimentos das mulheres e o crescimento pessoal e profissional delas nos nossos eventos. Relembro a experiência positiva que é a da Francisca Neris, da Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos do Munícipio de Betânia (Ascobetânia), iniciando como a tímida secretária da associação, cresceu na luta, assumiu presidência, criou a cooperativa, instituiu um grupo de mulheres e atualmente é secretaria de Agricultura do município”, comenta Ribeiro.

O gestor frisou ainda que não é fácil, já que determinados cargos são “carimbados” como masculinos, mas a presença nas diretorias, na gestão, a cada dia mostra esta força das mulheres, que também é resultado das prioridades oferecidas nos projetos.

Participaram do evento representantes de diversos órgãos, entidades e movimentos do Piauí como Coordenadoria Estadual de Política para Mulheres (CEPM), Fetag-PI, Emater, Cootapi, Emplanta, Contag, União de Mulheres de Batalha (UMB), Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), Movimento de Atingidos por Barragem (MAB). Também estiveram presentes organizações de outros estados como Projeto Paulo Freire (CE), Pró Semiárido (BA), Rede Ecovida (RGS) e Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMRT-NE), com participante de Sergipe, da Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste e do Grupo de Trabalho (GT) Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia.

A primeira palestrante do webnário, a agricultora Maria Francisca da Silva, fez questão de abrir a apresentação dizendo que se orgulha de ser agricultora, beneficiária do projeto Viva o Semiárido, moradora da comunidade Fornos, no município de Picos, mulher, casada como Seu João, mãe de quatro filhos e avó de quatro netos.

 

Dona Francisca contou que o esposo e os filhos sempre dividiram as tarefas de casa e da roça com ela, e considera que essa harmonia fez com que ela se considere uma mulher feliz. “Quem chega primeiro da horta faz o almoço, toda vida foi assim, a gente soma e divide as tarefas”, ressaltou a agricultora.

Já Marcilene, da comunidade São José dos Cocos, trouxe muitas reflexões sobre todos os trabalhos realizados em casa, no quintal produtivo, no roçado, mas destaca a importância da organização das mulheres e dos estudos para o fortalecimento das lutas e para mais conquista de liberdade e autonomia.

A engenheira agrônoma Janaína Mendes, atualmente diretora do Programa de Emprego e Renda (Progere II) na SAF, destacou em palestra como conseguiu realizar o mestrado dividindo o tempo entre a casa, a família e o trabalho na secretaria, uma jornada tão exaustiva quanto a das mulheres no campo. “Muitas vezes eu tive que levar os dois filhos para a universidade, pois queria dar continuidade à minha formação. Já no mercado de trabalho a gente enfrenta outra barreira, que é o preconceito por ser mãe e a alegação de que você não vai conseguir cuidar dos filhos e do trabalho com eficácia”, conta a diretora.

Janaína citou ainda o fato das mulheres do campo também enfrentarem o preconceito dentro de casa, quando é colocado que elas têm que priorizar o serviço doméstico, e muitas vezes acabam não acompanhando as reuniões e atividades promovidas pelas associações ou pelos programas executados pela SAF, como o Progere II.

A professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco Laeticia Jalil trouxe reflexões profundas sobre como a divisão de gênero do trabalho impõe sobre a maioria das mulheres a responsabilização pelo trabalho doméstico e de cuidados, sobrecarregando-as e trazendo uma série de doenças físicas e psicológicas. Ao mesmo tempo, retomou como a auto-organização das mulheres é fundamental para fazer com que elas reflitam sobre como todos os trabalhos podem ser compartilhados por todas as pessoas que convivem, entendendo que todos somos interdependentes entre nós e com a natureza.

Mostrando dados, a professora e integrante do GT Mulheres da ANA explicitou como o trabalho doméstico e de cuidados, que geralmente é invisível, é central para a economia e a sustentabilidade da vida. Por tudo isso, é necessário e urgente o debate também com apoio de ações do Estado sobre a divisão justa do trabalho doméstico.

A palestrante Karine Freitas representou oficialmente a campanha, quando apresentou o material de divulgação, vídeos e detalhes do projeto. “Este espaço é importante para que a gente amplie esta discussão e tente que sejam dados os devidos encaminhamentos. A campanha vem no sentido de ser o instrumento para ser ampliado, esperamos que aproveitem esta ferramenta nos diversos espaços e que todos possam se apropriar e fazer uso desta importante ferramenta para que a gente possa pautar a divisão justa dos trabalhos domésticos e de cuidados”, frisou a participante.

PVSA

O projeto Viva o Semiárido (PVSA) é um esforço do Governo do Estado do Piauí, em parceria com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), para reduzir a pobreza, aumentar a produção e melhorar o padrão de vida das populações com maior nível de carência social e econômica no meio rural do semiárido piauiense, por meio do incremento das atividades produtivas predominantes, da geração de renda e do fortalecimento organizacional das famílias rurais.

As mulheres, jovens e povos e comunidades tradicionais são públicos prioritários e a busca por construção de relações de gênero mais justas é parte fundamental dessa ação. A perspectiva é de fortalecer o empoderamento econômico, político e a justa divisão do trabalho doméstico.

O projeto atua em 89 municípios de cinco territórios do Piauí: Vale do Sambito (15 municípios), Vale do Rio Guaribas (39), Vale do Rio Canindé (17), Serra da Capivara (18) e Chapada Vale do Rio Itaim (16).

Os investimentos são destinados a planos de negócios voltados para as atividades da apicultura, ovinocaprinocultura, cajucultura, piscicultura, avicultura, quintais produtivos, suinocultura, mandiocultura, irrigação e artesanato.

Progere

O Progere II tem o objetivo de aumentar a renda dos pequenos produtores rurais em situação de pobreza, mediante: (I) a concessão de incentivos financeiros e de assistência técnica para a implantação de práticas agrícolas ambiental, social e economicamente sustentáveis, e (II) a inclusão desses produtores nos mercados dos arranjos produtivos relevantes.